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James Dean será "revivido" digitalmente para estrelar em novo filme

Atualizado: 2 de dez. de 2019

A volta póstuma do ator icônico, que morreu em um acidente de carro em 1955, levanta debate sobre a ética da reconstrução em CGI

James Dean
James Dean. Imagem: THR

James Dean, ícone do cinema norte-americano, teve uma morte trágica aos 24 anos quando sofreu um acidente de carro. Em 2019, 65 anos após a sua morte, o ator terá sua imagem "ressuscitada" por tecnologia CGI e atuará em Finding Jack, um drama de guerra com lançamento previsto para 2020.


De acordo com o The Hollywood Reporter, o projeto dirigido por Anton Ernst e Tati Golykh será produzida pela recente Magic City Films, empresa que obteve da família de Dean os direitos de usar sua imagem.


Finding Jack é uma adaptação do livro de Gareth Crocker e conta a história do abandono de mais de 10.000 cães militares no final da Guerra do Vietnã. Dean interpretará Rogan, personagem considerado um protagonista secundário.


Os cineastas afirmam que a decisão inesperada se deu após muito buscarem o "ator perfeito para interpretar o papel de Rogan, que possui alguns arcos extremamente complexos". Ernst afirma que "após meses de pesquisa, decidimos por James Dean".

James Dean
James Dean. Imagem: CGM Worldwide

O ator ficou conhecido por atuar em clássicos como "Vidas Amargas" (East of Eden, 1955) e "Rebelde sem Causa" (Rebel Without a Cause, 1955). A vida do Dean foi tragicamente interrompida em 30 de setembro de 1955, quando tinha apenas 24 anos e sofreu um acidente com seu Porsche 550 Spyder na Califórnia (EUA).


"Sentimo-nos muito honrados por sua família nos apoiar e tomar todas as precauções para garantir que seu legado como uma das estrelas de cinema mais épicas até hoje seja mantido intacto" diz Ernst ao THR. "A família vê isso como seu quarto filme, um filme que ele nunca conseguiu fazer. Não pretendemos decepcionar seus fãs ".


O THR ainda afirma que Dean será reconstruído por meio de CGI de "corpo inteiro" utilizando imagens e fotos reais. Além disso, sua voz será dublada por outro ator.


O aspecto preocupante da reconstrução póstuma


Enquanto Ernst, Golykh e outros cineastas sentem-se "animados" com a tecnologia de reconstrução, existe nela uma questão ética muito preocupante.

Audrey Hepburn
Atriz Audrey Hepburn. Imagem: reprodução

Ainda na notícia no THR, temos acesso à opinião de Mark Roesler, CEO da CMG Worldwide, empresa que representa James Dean ao lado de mais de 1.700 personalidades históricas, artísticas, de entretenimento, esportes, etc. Ele afirma que a nova tecnologia "[...] abre uma nova oportunidade para muitos de nossos clientes que não estão mais conosco".


Detendo os direitos de representação de personalidades como Ingrid Bergman, Neil Armstrong, Bette Davis e Jack Lemmon, a CMG Worldwide apresenta um panorama de imortalidade da imagem alheia. Nela, um artista falecido que não tem mais a possibilidade de consentir em doar sua imagem pode aparecer em projetos audiovisuais de qualquer estilo mesmo assim.


Isso remonta a outros casos polêmicos de reconstrução póstuma. Em um deles, a atriz Audrey Hepburn foi revivida digitalmente pela Mars e a Dove em uma propaganda da marca de chocolates Galaxy. O caso aconteceu 20 anos após a morte de Hepburn, trazendo a imagem rejuvenescida da atriz através de CGI (Computer Graphic Imagery). Nesse caso, o tom é ainda mais crítico, pois o propósito do comercial era fundamentalmente financeiro.

Imagem de Audrey Hepburn em comercial da Mars.
Imagem de Audrey Hepburn em comercial da Mars. Imagem: reprodução

No caso do cinema, a discussão também encontra esse lado financeiro e eticamente duvidoso. A posição de "direitos de imagem" tomada pela CMG e outras empresas tem o tom de posse não sobre as obras do artista, mas de sua pessoa.


Nesse âmbito, vimos em 2016 o retorno póstumo do ator Peter Cushing no filme "Rogue One: Uma história Star Wars"(Star Wars: Rogue One, 2016). Morto desde 1994, o ator britânico foi revivido via CGI para interpretar o vilão Governador Tarkin, interpretado por ele em 1977. O caso também levantou o debate entre o limite ético entre prestar homenagens aos atores e se utilizar da imagem e nome de alguém que já morreu.

Peter Cushing em Rogue One
Peter Cushing em Rogue One. Imagem: reprodução

Sobre isso, Joana Amaral Cardoso comenta, em uma matéria do portal Ípsilon, que "Tal como Fred Astaire ou Audrey Hepburn já fizeram publicidade para produtos que nunca viram em vida, o rosto de Cushing retoma um papel que não sabia que iria ser repescado para um filme que nunca soube que ia existir e diz falas que nunca estudou". Portanto, existe uma questão séria de falta de consentimento.


E essa moda não está perto de acabar. Ao THR, Ernst ainda acrescentou: "Nossos parceiros na África do Sul estão muito entusiasmados com isso, pois essa tecnologia também seria empregada no futuro para recriar ícones históricos como Nelson Mandela, a fim de contar histórias importantes sobre o patrimônio cultural".


Enquanto as histórias são importantes de serem contadas, a questão da interpretação póstuma via CGI sem consentimento não é algo fundamental para a existência delas.


Contudo, fica claro que casos de uso do CGI como o de James Dean e Peter Cushing estão cada vez mais comuns. Por isso, é necessário discutir até onde vai o limite da tecnologia de reconstrução póstuma e o que isso significa para a imagem pessoal de personalidades "públicas".


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