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Conheça estruturas de roteiros de série em diferentes formatos

Atualizado: 18 de abr.

Seja de sitcom, drama de uma hora ou mais, roteiros de séries têm formatos diferentes. Confira os mais tradicionais!


"Um Maluco no Pedaço"
"Um Maluco no Pedaço". Imagem: reprodução

Roteiro de ficção para TV e streaming é tudo igual? Uma sitcom de múltiplas câmeras e um drama de uma hora são idênticos?


Roteiros de televisão (às vezes chamados de teleplays) e streaming utilizam formatações diferentes entre si. No mercado audiovisual brasileiro, especificamente, nem sempre são escritos da mesma forma do que no mercado norte-americano, mas existem sim algumas correspondências. 


Para fins de estudo, os artigos que traduzimos, adaptamos e complementamos do TheScriptLab trazem os clássicos formatos de sitcom, drama 1h e um exemplo de roteiro piloto para streaming. 


Nosso intuito é mostrar como são pensados e utilizados os diferentes elementos estruturais para que seu estudo sobre roteiro seja mais fácil. Afinal, não: nem todo roteiro de série é igual. Conheça os principais formatos e compreenda melhor as regras estabelecidas, para que quando você for "inovar" na sua estrutura, você saiba o que está fazendo.


Confira!


Séries de TV clássicas vs. séries atuais

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"The Americans". Imagem: Collider

Você deve ter percebido que os streamings como Netflix, Apple TV+, HBO e Globoplay chegaram mudando várias regras já estabelecidas nos mercados audiovisuais pelo mundo. Isso refletiu também na escrita de roteiros de série, já que streamings não têm pausas para comerciais. 


Isso, aliado à demanda constante por inovação, possibilita linguagem e ritmo diferentes – idealmente, na teoria, cada série faria o que a narrativa "pede". Na prática, sabemos que a criação é mediada pelos executivos, mas esse é um assunto para outro artigo.


Hoje, ao invés do drama de 1h ser necessariamente quebrado por pausas de comercial, ele pode ser "cinemático", por exemplo, seguindo uma estrutura semelhante à de longas-metragens. Muitas séries atuais são multiplot de verdade e conseguem trazer arcos de transformação para vários personagens, ao invés de focar tanto apenas no plot principal em si (como algumas clássicas séries procedurais, por exemplo).


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"Maravilhosa Sra. Maisel". Imagem: reprodução

Além disso, séries de TV e streaming têm diferentes linguagens e abordagens narrativas entre si – influenciando na estrutura e formatação do roteiro. Séries procedurais (self-contained), por exemplo, trazem narrativas com sequências de repetição, como investigações policiais, médicas e jurídicas. Assim, cada episódio procedural traz novas situações, mas que se fecham ao final do episódio em uma estrutura mais ou menos "repetida" ao longo das temporadas.


Já as serializadas trazem uma estrutura mais livre, com arcos maiores e personagens complexos. São plot ou character driven, trazendo mais liberdade na hora de pensar as sequências. Assim, os roteiros dos episódios serializados aproximam-se bastante da estrutura de um longa-metragem. Sendo assim, é importante conhecer os diversos formatos e abordagens na hora de escrever seu roteiro.


Confira agora o texto que traduzimos, adaptamos e complementamos de Ken Miyamoto no TheScriptLab


Estrutura e Formato do Clássico "Drama de 1 Hora"

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"The Americans". Imagem: reprodução

A maioria das séries norte-americanas de 40 minutos a 1 hora trabalha dentro dos gêneros de drama, suspense, ficção científica ou fantasia. Geralmente, você não encontrará uma clássica comédia ou sitcom de uma hora na TV. No streaming, já é mais possível.


Além das diretrizes e expectativas abaixo, é fácil captar a estrutura da história de um episódio de uma hora simplesmente assistindo a qualquer episódio na TV. Séries como Mr. Robot, The Americans, Empire, Better Call Saul, Grey's Anatomy e The Walking Dead oferecerão a experiência perfeita da estrutura de canais de rede e a cabo. 


Cada intervalo comercial geralmente é uma pausa no ato da história (a necessidade desaparece na série para streaming, mas essa pausa ou gancho na narrativa ainda pode ser usado a fim de manter um ritmo específico). 


A estrutura da maioria dos episódios de séries de uma hora consiste em: 

  • Cena de Teaser, 

  • Ato Um, 

  • Ato Dois, 

  • Ato Três, 

  • Ato Quatro 

  • Um curto Ato Cinco ou Tag. 


Esses teleplays têm geralmente entre 53 e 60 páginas, embora possa aumentar para 75 páginas para roteiristas mais estabelecidos. 


Teaser

No mercado norte-americano, geralmente abre-se o roteiro de TV com um Teaser centralizado e sublinhado na primeira página. Teasers são exatamente isso — um aperitivo que mostra qual será o conflito principal do episódio e onde os personagens estão naquele momento. Geralmente duram apenas algumas páginas, mas há muitas exceções a essa regra.


Apesar das "Cold opens" serem bastante utilizadas em comédias, vários dramas modernos e contemporâneos utilizam-se dessa abordagem para iniciar os episódios também (exemplos: Breaking Bad, A Sete Palmos). Mais sobre isso abaixo.


Confira o cabeçalho do teaser da série The Americans (FX, 2013):



Neste primeiro episódio da série, o teaser tem 12 páginas. Isso pode ser aceitável tanto para escritores estabelecidos quanto para episódios pilotos, que usam um tempo extra preparando toda a série que virá em termos de narrativa, personagens e o universo como um todo. Mas, geralmente, você verá a maioria dos teasers com apenas algumas páginas.


Como você pode ver, o clássico formato utiliza esse cabeçalho de TEASER no centro. Depois, escreve-se o roteiro normalmente, como faria no formato de longa-metragem, até chegar ao final daquela cena ou sequência de teaser, onde está o "FIM DO TEASER".


Ato Um

Quando a cena de teaser termina, o ATO UM geralmente começa em uma página nova. Conforme o roteiro avança, cada ato começará e terminará como tal. O propósito de começar cada ato em uma nova página é permitir que o leitor diferencie facilmente onde cada ato começa e termina.


Depende dos heads de salas de roteiro mas, conforme mencionamos, esse tipo de indicação não é comum no mercado brasileiro. Porém, está presente em muitos roteiros de TV norte-americanos.



O primeiro ato é frequentemente onde a verdadeira história da série começa. Você já mostrou o conflito principal, a luta ou a ameaça imposta na cena de teaser — que é sobre o que ou "quem" o episódio será — e agora é hora de mostrar onde as personagens principais estão enquanto você as leva a serem confrontadas com o conflito principal (Ato Dois).


Quando o ATO UM termina, assim como o TEASER, fecha-se o primeiro ato com FIM DO ATO UM centralizado e sublinhado. No mercado brasileiro, essa formatação não é obrigatória.


Ato Dois

O segundo ato, como é o caso com a estrutura de três atos da narrativa cinematográfica, é onde as personagens lidam com o conflito. Estão lutando ou falhando. Estão descobrindo os piores efeitos do conflito. É o fun and games e a flutuação entre conquistas/derrotas.


E no final do segundo ato, as personagens possivelmente encontraram uma maneira de superar tudo, até o...


Ato Três

O terceiro ato é geralmente quando as personagens estão no ponto mais baixo. O segundo ato pode ter oferecido alguma esperança geral, mas o terceiro ato esmagou essas esperanças à medida que um conflito novo ou evoluído os confrontou. Ou falharam, ou foram superados. Muitas vezes, esse ato termina no midpoint.


Claro que isso muda de série para série, mas de maneira geral, os procedurais e serializados mais clássicos seguem essa estrutura.


Ato Quatro

Na maioria dos casos, o quarto ato mostra as personagens principais começando a resolver o problema ou enfrentar o conflito com conhecimento, força ou determinação renovados.


Episódios da maioria das séries de 1h terminam no quarto ato. As personagens sobreviveram ou aprenderam algo com o que enfrentaram. Mas a história não termina aí. Como é uma série de vários episódios que consiste em arcos de história e arcos de personagens contínuos, o quarto ato termina geralmente com algum cliffhanger ou sugestão para o próximo episódio. 


Pode ser simplesmente escrito como a última cena dentro do quarto ato, ou...


Ato Cinco ou Tag

Se você quiser enfatizar ainda mais esse cliffhanger ou sugestão para o próximo episódio, pode usar ATO CINCO ou TAG. O quinto ato ou tag é bem rápido e consiste apenas em 1-2 páginas na maioria das vezes.


O roteiro piloto de The Americans usou o final do quarto ato para seu cliffhanger, mas isso poderia ter sido facilmente usado como um TAG.



Nem todo roteiro precisa fazer isso, mas é uma maneira clara de fazer o público querer mais.


Resumo

the americans
"The Americans". Imagem: reprodução

Como você pode ver, o formato de um episódio de uma série de uma hora é bastante reconhecível e direto. Apesar de serem usadas nos roteiros norte-americanos clássicos, as indicações de TEASER, ATOS e TAG não são obrigatórias.


Os elementos interessantes de prestar atenção são o número de páginas para cada teaser, ato e possíveis tags. Não é recomendável escrever um roteiro de 90 páginas. Claro que, se ultrapassar o número de páginas sugerido para cada ato por algumas páginas, não há grande problema. Isso ocorre frequentemente devido à descrição de cena ou sequências visuais que precisam ser explicadas, e às vezes também devido a diálogos estendidos que ocupam espaço adicional no roteiro. 


Mas a principal questão de compreender a estrutura é também analisar o ritmo do episódio, para entender se algum ato está longo demais ou se falta alguma reviravolta importante ao longo da trama.


Drama contemporâneo de streaming: Piloto de ‘Maravilhosa Mrs. Maisel’


‘Maravilhosa Mrs. Maisel’. Imagem: reprodução
‘Maravilhosa Mrs. Maisel’. Imagem: reprodução

Episódios pilotos são episódios à parte – o primeiro episódio de uma série é fundamental por diversos motivos. 


Alguns são pilotos de premissa, focado em um incidente incitante que muda a vida da protagonista e dá o arco de transformação da série (por exemplo, Orange is the New Black). Já outros são ongoing, trazendo elementos e personagens de um universo que já existe, mas traz uma investigação de caráter ou a estrutura procedural que veremos ao longo da temporada (exemplo: The Sopranos).


Nessa seção do artigo, vamos nos atentar à estrutura de um piloto de "drama" contemporâneo, utilizando a série "Maravilhosa Sra. Maisel" (Prime, 2017) como exemplo. Lembrando que "drama" nesse contexto quer dizer o formato de 40 minutos à 1h, e não necessariamente o gênero.

‘Maravilhosa Mrs. Maisel’. Imagem: reprodução
‘Maravilhosa Mrs. Maisel’. Imagem: reprodução

Quantos atos tem no episódio piloto da série?

Como "Maisel" é um programa de streaming, não possui os tradicionais intervalos comerciais que indicariam divisões de atos. O roteiro também não é escrito com atos explícitos. Porém, pela análise de Perelman, é possível que o roteiro de "Maisel" tipicamente possui um teaser + cinco atos. O piloto é diferente, pois o teaser é anexado ao primeiro ato.


Enredos

O piloto de "Maisel" é único no sentido de que seus enredos são cronológicos. A história segue Midge e apenas ela, então conforme sua jornada muda, também muda o enredo.


Enredo A — Tudo está bem. A vida de Midge é perfeita. Ela é a esposa e filha ideal.

Enredo B — Uma apresentação desastrosa no clube Gaslight leva Joel a admitir que tem traído Midge, está infeliz e vai embora.

Enredo C — As consequências da partida de Joel.

Enredo D — Midge sai da prisão e, contra todas as probabilidades, pode ficar bem.


Personagens 

O episódio piloto de "Maisel" apresenta doze personagens ao público. É a principal "teia de personagens", com seus núcleos.


O Ambiente

Cidade de Nova York (1958) — Mais especificamente, Upper West Side. Midge e Joel moram no mesmo prédio que seus pais e vivem uma vida feliz e perfeita. Eles vão para o centro todos os fins de semana para serem boêmios no Gaslight Café, mas vêm de famílias confortáveis e não lhes falta nada.


O cenário de stand-up nos anos 60 era predominantemente masculino, e obscenidade ou nudez poderiam levar à prisão.


Temáticas/Características Importantes

O episódio piloto de uma série estabelece o tom para o resto dela, em grande parte através do uso de motivos estilísticos, ritmo e detalhes como escolhas de diálogo. O piloto de "Maisel" estabelece duas características que permeiam o resto da série:


  • Diálogo rápido

  • Pequenos flashbacks (narrativa não linear)


Se falarmos de um procedural, por exemplo, é importante que o piloto apresente as dinâmicas e linguagens principais que veremos ao longo da série. Porém, de novo: isso não é regra, até porque as séries mais atuais apostam bastante em quebra de linguagem e expectativa.


Cena de Abertura

Midge Maisel faz um discurso incrível em seu próprio casamento. A história começa onde a maioria das comédias românticas termina — no casamento — sinalizando que este não será o arco tradicional de felizes para sempre que você esperaria de um jovem casal bem-sucedido nos anos 1950.




Incidente Incitante

O incidente incitante desse episódio na verdade não é visto na tela, mas é mencionado. É, portanto, um piloto de premissa.


Porque a reunião de almoço de Joel se estende, ele não consegue ir ao centro e garantir um bom horário para se apresentar no Gaslight. Isso desencadeia uma série de eventos que inclui ele falhando naquela noite e termina com ele dizendo a Midge que vai deixá-la.


Conflito Principal


  • Midge versus Joel (ou: Midge versus A vida perfeita)


O conflito principal no piloto é entre Midge e Joel. O relacionamento deles está desmoronando é o que faz a trama progredir. Mais adiante no episódio, Joel é menos um “antagonista”, e o “oponente” de Midge passa a ser a ideia de uma vida perfeita e o fato de que sem Joel ela não será capaz de mantê-la.


O nó

Completamente exausto, Joel tenta mudar sua atuação na hora. Ele arrasa na frente de uma multidão, incluindo seus amigos Imogene e Archie – que contrataram uma babá para que pudessem ver seu set.


O twist trágico

Joel não apenas diz a Midge que a está deixando, mas também admite que está tendo um caso com sua secretária, Penny Pan, que não consegue "nem descobrir como usar um apontador elétrico".


O grande momento

Bêbada com o vinho destinado ao Yom Kippur, Midge acaba no palco do Gaslight e reclama da bagunça que sua vida de repente se tornou. É cru, honesto, totalmente hilário e inclui uma polêmica nudez.


Tema(s) declarado(s)


“Eu não me importo de ficar sozinha. Só não quero ser insignificante.” (Susie)


---------

[...]

"Você ama isso?"


“Eu amo o quê?”


"Comédia. Ficar de pé. Você ama isso?"


"Sério?"


[Midge faz que sim com a cabeça]


“Bem, eu já faço isso há algum tempo. Ok, vamos dizer assim: se houvesse mais alguma coisa no mundo que eu pudesse fazer para ganhar a vida, eu faria. Qualquer coisa! Estou falando de lavar roupas para o Klan, pintar retratos de crianças aleijadas, atendente de matadouro. Se alguém me dissesse: ‘Leonard, você pode comer a cabeça de um cara ou passar duas semanas no Copa’, eu diria: ‘Passe a droga do sal’. É um trabalho terrível, terrível. Não deveria existir. Como o câncer. E Deus."


[...]

“Mas você ama?”


Lenny dá de ombros, sorri e vai embora [...].


"Sim... ele adora."


Cena de encerramento

Midge tira Lenny Bruce da prisão e pergunta se ele gosta de stand-up (cena descrita acima).



O que vem depois?

Como em qualquer bom episódio piloto, o espectador fica com um forte senso da protagonista e do mundo que ela habita, mas com várias perguntas sem resposta. O "palco está montado", a tensão é palpável, a jornada começou, e a história está pronta para se desdobrar. Os "ganchos" para o público envolvem:


  • Midge e Joel vão se reconciliar? Se não, como Midge vai manter aquele apartamento enorme?

  • Midge vai se tornar uma comediante de stand-up?

  • Midge e Suzie vão formar uma boa dupla de trabalho? 


Estrutura e formato de sitcom de 30 minutos ("Comédia")

"The Last Man on Earth". Imagem: reprodução
"The Last Man on Earth". Imagem: reprodução

A maioria dos programas de meia hora são sitcoms, ou o formato chamado situational comedy. No entanto, especialmente com a expansão das plataformas de streaming, a linha entre comédia e drama em programas de meia hora está começando a se misturar (as dramédias, por exemplo).


Independentemente disso, a esmagadora maioria dos programas de meia hora é cômica e traz elementos estruturais típicos desse gênero. Por exemplo, o episódio cria um nó e depois a virada que resolve a situação cômica, mas finalizando a discussão temática de forma inusitada. O foco da sitcom é geralmente em personagem complexos, contraditórios, que operam em plot mais simples, focados em um conflito temático e seus desdobramentos.


Exemplos clássicos são Seinfeld, The Office, Frasier e Modern Family. Dentro do reino de comédia de meia hora para a TV, existem dois tipos diferentes de programas - de uma única câmera e de múltiplas câmeras.



Sitcom de câmera única vs. de múltiplas câmeras 

Veep
"Veep". Imagem: reprodução

A sitcom de uma única câmera engloba séries como Modern Family, Silicon Valley, Veep e The Last Man on Earth.


O nome Single Camera (câmera única) é equivocado: tais programas muitas vezes usam mais de uma câmera na realidade. O elemento importante a lembrar é que isso se relaciona com a maneira como o programa é filmado. Esses tipos de programas são filmados muito parecido com um filme, ao contrário de episódios filmados diante de uma plateia ao vivo.


A sitcom de múltiplas câmeras frequentemente envolve programas que são filmados diante de uma plateia ao vivo, como The Big Bang Theory, Friends e Um Maluco no Pedaço. Essas comédias são filmadas em um palco, ao vivo (ou simulando isso), usando várias câmeras para capturar as performances frequentemente distribuídas entre diferentes partes de um cenário. Personagens se movem de um cômodo para outro, e diferentes câmeras os seguem. Mesmo em locais únicos, várias câmeras capturam diferentes ângulos durante as gravações ao vivo. São aquelas clássicas séries com "risadas" da plateia, a claque.


Formato de câmera única (single camera)

"The Last Man on Earth". Imagem: reprodução
"The Last Man on Earth". Imagem: reprodução

O roteiro de sitcom câmera única é escrito como um roteiro de longa-metragem ou drama de uma hora, com a noção adicional de atos condensados devido à contagem reduzida de páginas — de 22 a 25 (aproximadamente). Para roteiristas e showrunners estabelecidos, alguns roteiros de sitcoms podem ultrapassar as 40 páginas, devido ao diálogo. Um spec, por exemplo, beneficia-se de um roteiro mais enxuto.


Para esse exemplo, o TheScriptLab analisou a série de comédia "The Last Man on Earth" (O Último Cara da Terra - FOX, 2015) . Essa série já traz alguns elementos de desenvolvimento narrativo mais serializados, a cada temporada, por exemplo. Portanto, lembre-se de que existem sitcoms muito mais tradicionais.


Os roteiros de sitcom seguem uma estrutura de começo, meio e fim mais padrão - Estrutura de Três Atos - e, neste caso, o teaser é mais comumente chamado de COLD OPEN.


Sequência de abertura "Cold open"

Assim como o teaser de um drama de uma hora, a cold open apresenta o conflito em questão - ou neste caso, a "situação" da comédia de situação. É a prática de pular diretamente para uma narrativa já no início do episódio, antes que a sequência do título ou os créditos de abertura sejam mostrados. Essas sequências geralmente causam impacto no espectador – seja pela estranheza da imagem ou por uma situação inusitada.


the office
"The Office". Imagem: reprodução

Porém, a sequência de apresentação nem sempre precisa ser central para a história de todo o episódio. Inclusive, em diversas séries famosas, como The Office, a cold open é quase uma esquete com início, meio e fim.


Friends também foi famosa por cold opens não relacionadas que ofereciam momentos engraçados que muitas vezes tinham pouco ou nada a ver com a história. Mas elas sempre mostram a dinâmica das personagens, que para uma sitcom é importante.





Apesar de não ser uma sitcom e sim um drama de 1h, um exemplo icônico e diferente é o de "Six Feet Under" (A Sete Palmos - HBO, 2001), que mostrava uma personagem morrendo a cada cold open. É uma maneira de trazer essa estratégia sem deixar de unir a temática ao avanço da narrativa.


Com The Last Man on Earth, a cold open nos apresenta à premissa do show, um padrão para episódios piloto. Conforme os episódios avançam, as cold opens variam de "orientadas para o enredo" a "orientadas para o personagem". 



Na formatação, geralmente COLD OPEN é centralizada e sublinhada e sempre termina com FIM DO COLD OPEN. Você pode usar TEASER e FIM DO TEASER também, ou se preferir, nenhum dos dois termos.


Ato Um

O primeiro ato de um roteiro de sitcom rapidamente coloca as personagens no conflito ou situação. Às vezes, ATO UM é centralizado e sublinhado, começando em uma nova página, assim como os demais atos.



Ato Dois

Assim como no roteiro de drama de uma hora, o segundo ato mostra as personagens no seu pior momento. No caso da sitcom, a hilaridade acontece no meio das personagens lidando com a situação que foram forçados a enfrentar. Para o público, as risadas estão no auge. Para os personagens, eles estão no meio do conflito máximo.


Ato Três

O terceiro e último ato é a resolução, se utilizada a estrutura de 3 atos. É onde As personagens começam a entender as coisas e tentam sobreviver à situação ou superá-la. Muitas sitcoms modernas, como It's Always Sunny in Philadelphia, se utilizam desse ato para inovar nas conclusões, muitas vezes trazendo um humor surreal ou absurdo ao episódio.


Tag

Muitas sitcoms têm tags muito semelhantes ao cold open no que diz respeito a apresentar uma piada ou traço de personagem (se não estiver diretamente relacionado ao enredo). A TAG em uma sitcom é um momento simples, com duração de não mais que uma página, que oferece uma risada adicional, frequentemente como um segundo ponto de fechamento para o enredo ou assunto geral.


Formato de Múltiplas Câmeras

"Um Maluco no Pedaço". Imagem: reprodução
"Um Maluco no Pedaço". Imagem: reprodução

Os roteiros de múltiplas câmeras das clássicas sitcoms norte-americanas são os mais diferentes em termos de formato.


Como a maioria dos roteiros de sitcoms de várias câmeras são filmados diante de uma plateia ao vivo, o formato precisa ser diferente principalmente por motivos de produção. Esses tipos de séries são produzidas muito mais rapidamente, com a maioria filmando mais de um episódio por dia diante de uma única plateia.


Por isso, os roteiros de sitcoms de múltiplas câmeras requerem um formato mais técnico e simplificado para produtividade específica de produção. Pode-se traçar um paralelo com os roteiros de programas de variedades ou não-ficção, com suas devidas proporções.


Algumas diferenças dos formatos mais clássicos incluem:


  • A ação e descrição de cena estão em MAIÚSCULAS.

  • NOMES DE PERSONAGENS são sublinhados na primeira vez que aparecem e frequentemente estão em MAIÚSCULAS durante todo o roteiro.

  • Há mais direções de palco, parecido com uma peça de teatro.

  • Entradas e saídas de personagens são frequentemente sublinhadas.

  • Os cabeçalhos de cena/slug lines geralmente são sublinhados.

  • O diálogo pode ser espaçado duplamente.


Por causa desse diálogo espaçado duplamente, por exemplo, os roteiros de série de múltiplas câmeras podem ter de 52 a 58 páginas.


Exemplo do roteiro de The Big Bang Theory:



Exemplo do roteiro piloto de Frasier:



Exemplo do roteiro de Um Maluco no Pedaço:




As exceções a todas essas "regras"


Como em qualquer exemplo de regras de formato, certamente há exceções.


Por exemplo, você verá roteiros de episódios piloto que não diferem muito dos formatos de filmes de longa-metragem, como o que apresentamos acima (Ms. Maisel). Os pilotos de Games of Thrones e The Walking Dead também são exemplos clássicos, pois ambos utilizam o formato padrão de longa-metragem sem intervalos de atos.


severance
"Severance". Imagem: reprodução

Outra exceção tem a ver com a linguagem da série: por exemplo, todos os episódios podem começar com um flashback ou flashforward. Ou, então, cada episódio traz o ponto-de-vista de alguma personagem específica. Enfim, as possibilidades de explorar novas linguagens e estruturas são diversas.


A escolha da estrutura e formatação do roteiro da série é tanto sua quanto do streaming/canal, já que muitas empresas têm seus próprios formatos.


Ainda assim, é útil conhecer esses formatos mais padronizados, já que ajudaram a sedimentar muitas das obras que temos como referência.



E OUTROS EXEMPLOS 

[em inglês]


 

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